quinta-feira, 5 de março de 2015

A ESTATÍSTICA QUE ENVERGONHA UM PAÍS. QUAL SEU PAPEL NESTE "NÚMERO", PAI E MÃE?



“queru agradesser aos zamigos que tava torcendo por mim mais infelismente eu não paçei no Enem a prova de redassão tava mto dificio. Eu fis tudo e não entendi porque não paçei, mas sem pobrema anu que vem nóis tenta dinovu. Obrigada a todos pela forsa! No português eu sô bom a matemática que me derroboa”

“Genti assertei 31 questoes no total. Dá pra medissina? Achu que fiz uma boa redassão. Me ajude”.


Caros Leitores, o bate papo deste mês começa assim mesmo, com uma das sequencias mais “gritantes” de erros que já li. Penso que estes dois trechos justificam o numero divulgado pelo MEC (Ministério da Educação) de que cerca de 500 mil alunos “zeraram” a prova de Redação do ultimo ENEM (Exame nacional do Ensino Médio), sendo que, dos quase 7 milhões de inscritos, e que compareceram ao Exame, apenas 250 obtiveram a nota máxima (1000) na referente prova. Para os apreciadores do bom português, ler esta postagem que circulou em Redes Sociais e sites de noticias da internet, me levou a grande reflexão. Primeiro cheguei a pensar que havia sido uma “brincadeira do aplicativo whatsapp” e que a Rede Social se incumbiu de manter a circulação para que “comentários sarristas” surgissem. Mas, em um segundo momento, passei a olhar o fato com tristeza e realidade: Nossos jovens estão escrevendo desta maneira e os pais parecem estar cada vez mais distantes do “mundo tecnológico” dos filhos. Uma realidade que chegou, se instalou e parece ter vindo para ficar.
Aí ouço: “é preciso compreender que a velocidade mundial é galopante e que o cérebro do jovem precisa acompanhá-la”. Estes mesmos jovens afirmam que a escrita precisa chegar ao outro com “poucas palavras” e “total compreensão”. É preciso conversar com muitos, ao mesmo tempo, e se fazer jus à uma lista interminável de contatos. Muitos dos nomes desta lista, não se conhece, foi apenas “inserido” em um grupo de “bate-papo” com outros tantos; outros muitos contatos foram inseridos na fila do cinema, saguão do Aeroporto, Balada, banheiro do Shopping e, uma semana depois já se lê: “amigos forever”.
E, com tantos assobios sonoros concomitantes, é preciso dar conta de todos os assuntos. Desta forma, é “trabalhoso” encontrar o acento no teclado virtual e a ação instantânea, foi “criar” um “H” no final da palavra, e não se escreve mais: “não é”, e sim “neh”. Como é longo escrever: “gostei muito do que você escreveu”, então se “traduz” um sentimento com: “kkk”. A legenda das fotos postadas instantâneamente é resumida em: “encontro cazamiga”, claro, para quê escrever: “encontro agradável com as amigas”?
Calma, Caros Leitores, eu não me enganei, quando direcionei o texto aos pais de Educação Infantil e futuros pais de jovens. Minha reflexão sobre o tema segue, ainda, sobre a “distancia” que estes jovens possuem de seus pais. Pais estes que, muitas vezes, nem chegam a saber o real motivo da pontuação de seu filho em um Exame, muito menos quem compõe esta “lista de contatos”. Não possuem conhecimento de que a explicação do “Zero da Redassão” do filho está nesta escrita veloz e incorreta. Ao contrario, se iludem e enchem a boca para falar aos amigos: “Meu filho (a) de 18 anos me acompanha socialmente”. E este filho está ali com o pai, sim, mas “conectado full time”, graças aos avanços de conexão e suas exigências por aparelhos velozes e modernos, onde a “internet 4G pega em qualquer lugar”. E o preço desta alta velocidade é: “Sim, seu filho está, mas não está”. Pois a velocidade o afasta do convívio, os distancia do diálogo e os aproxima de um mundo veloz, irreal, perigoso e gramaticalmente incorreto.
E minha pergunta está: “Você, pai de adolescentes, quando foi a ultima vez que viu o caderno escolar de seu filho?”; “Você sabe como está a qualidade da letra e redação de seu filho?”; “E você, pai de alunos em idade escolar, já presenteou seu filho com um Tablet?”; “Permite que seu filho utilize o equipamento frequente e deliberadamente, sem uma rotina pré-estabelecida?”.
Pai e Mãe, vocês sabiam que pesquisa recente trouxe que o uso excessivo de teclados prejudica o desenvolvimento salutar de uma área cerebral fundamental, o Lobo Frontal, onde está localizada a Área Motora – uma das funções mais importantes neste momento etário de seu filho: a consolidação da escrita?
É muito triste ler: “derroba”, “redassão”, “dificio”, “paçei”, “medissina”, “anu”, “nóis”.... e saber que este mesmo pai nunca mais viu o caderno do filho depois de seu ingresso no Ensino Fundamental II.
É muito triste saber que o avanço tecnológico traz a rapidez do toque, a “inserção” de conversas em excesso e aumenta a escassez junto à Leitura e Escrita. O pai que presenteia o filho com um “eletrônico de ponta”, na maioria das vezes, o afasta do Livro Infantil, quando não é feita a “dosagem” para o uso.
E o resultado pode não estar lá na frente, com o aumento abusivo de “zero’s” na Redação do ENEM. Utilizo em meu trabalho um instrumento de avaliação chamado “Teste Guestáltico de Bender”,  Um que fornece a “Idade Motora” do paciente, revelando atrasos significativos junto ao processo de consolidação da escrita. E, pasmem, é raro quando avalio um destes, e creio que já apliquei mais de uma centena, e encontro uma criança dentro ou acima dos padrões que se espera para sua faixa etária. Em sua maioria, a idade motora concentra-se nos 6 anos, o que para uma criança de 09 / 10 anos, é considerado um diagnóstico “Limítrofe” – e entende-se como a idade-início da Alfabetização, mas o pouco estimulo transformou-se em déficit, que precisa se correr atrás, pois está prejudicando outras esferas do aprendizado
E assim, segue a Cadeia Acadêmica em Decadência: Não se lê – escreve-se pouco (e com preguiça) – sem vontade de se formular uma frase completa – o Lobo Frontal trabalha cada vez menos – a adolescência chega – as mensagens instantâneas passam a fazer parte da rotina – o Ensino Médio chega ao fim – o pai não sabe a cor da capa do caderno do filho – e a “Redassão” deixa a desejar e vira piada nas Redes Sociais e chamadas de programas televisivos.
O sonho de se encher a boca e se dizer: “Meu filho está cursando MediCina” é engavetado. E seu papel junto ao incentivo, supervisões e correções necessárias, está onde? Será que no momento em que você deu o eletrônico, mas não colocou regras e limites em sua utilização? Será que inserir ferramentas de lazer, e “acompanhar o tecnológico” não afastou seu filho da mais importante ferramenta de prazer, essencial para todo seu desenvolvimento: A Leitura?... Será?.... É... seguindo a modernidade.... #FicaDica

Boa Leitura, boa reflexão a todos e até o próximo mês. Sintam-se a vontade para debater, colocar suas opiniões e visão a respeito deste assunto.


Para saber mais:
1.     “Os erros mais comuns de quem teve a redação anulada no Enem”. Disponível em: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/os-erros-mais-comuns-de-quem-teve-a-redacao-anulada-no-enem
2.     “Falta de escrever à mão pode prejudicar desenvolvimento cerebral das crianças”. Disponível em:

Valesca Souza
Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia

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