quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

EM NOME DO BEM-ESTAR E DA FAMÍLIA - A CHEGADA DE MAIS UM BEBÊ

Amigos leitores, para mim, falar de criança é sempre retratar o mágico, a aprendizagem e a sabedoria que esta convivência nos traz – seres adoráveis, encantadores, motivo de nossa eterna preocupação. Criança – “Criar Esperança” – esperança de futuro, novos conceitos e desafios a todos.

Vez por outra sou procurada por pais que, “às vésperas de darem a luz ao segundo ou terceiro filho”, buscam aconselhamento sobre como lidar com o primogênito quando o caçula chegar. A todos nunca deixo de dar uma dica inicial: na época do nascimento, investiguem o mais velho sobre algo que ele queira muito ter (um brinquedo, ou algo marcante temático para o momento – como um estojo da Barbie, uma toalha de banho do Ben 10, nada muito caro, pelo alto custo que já possuem com os preparativos do novo bebê); leve esta lembrança à Maternidade e no primeiro contato do mais velho com o irmãozinho entregue-a, dizendo que é um presente trazido a ele pelo irmão; assim, os laços de união, fraternidade e amizade entre eles começam a se fortalecer a partir dali. “Mas, e se ele perguntar como o irmão trouxe se estava dentro da barriga?” – vocês podem estar me perguntando. E para que vocês não sejam pegos de surpresa na Maternidade, saibam: “a consciência de que a barriga da mãe cresce porque ali dentro está um Ser Humano se desenvolvendo, como foi com ele” deve ser transmitida desde o início. Mas neste momento, busquem o lúdico. Que tal “citar” os anjos como mensageiros do novo bebê sendo os anjinhos que lhes informaram? Pode ser uma boa!!

Uma segunda dica é nunca esquecerem deles no momento da compra de algo para o bebê, nem que seja algo pequeno e barato, mas para eles sempre há uma importância grande ao saberem que compraram objetos e utensílios necessários aos bebês, mas que eles jamais serão esquecidos.

Às crianças nunca deverão ser ditas meias verdades. Desde o início da gravidez deverão saber o que está acontecendo, afinal nas próximas 40 semanas mudanças ocorrerão e o irmão mais velho é parte integrante destas: a chegada do novo enxoval e mobílias, mudanças na decoração do quarto (quarto este, que antes era único do filho mais velho), pessoas ao telefone buscando informações do bebê, alterações hormonais da mãe (enjôos, inchaços, sono, cansaço), escolha do nome, chá de bebê, escolha da maternidade, ultra-sonografias...

Ufa! Olhem só tudo que uma família passa durante 40 semanas. Por isso, muitas vezes, o filho mais velho, protagonista durante os últimos tempos, passa a ter papel de figurante neste momento; ou ainda, os pais despreparados para esta nova etapa, acabam por deixá-lo de lado ou mesmo deixam para a Escola a missão de preparar o filho mais velho para chegada do irmão.

Enquanto Equipe responsável pela formação ética e moral destes pequenos cidadãos, a Escola já trabalha alguns pontos com este aluno:divisão de brinquedos, atenção e carinho dos profissionais que ali estão, com os demais colegas. No entanto, quando esta situação é vivida em casa, tudo muda. Assim, aos pais, segue a sugestão de nunca mencionar esta questão, afinal, dizer ao filho: “não se preocupe, pois mesmo com a chegada do seu irmão, nós nunca vamos deixar de gostar de você”, ou ainda “agora você terá que aprender a dividir seus brinquedos com o irmãozinho” – pode gerar nele, a sensação de incapacidade nesta competição, pois mesmo não tendo-a vivido, ele já deve ter presenciado um outro casal dispendendo-se aos cuidados de um bebê e irá imaginar que em sua casa não será diferente, e, portanto, seu espaço poderá ficar escasso.

Volto a dizer, este é um trabalho que deverá ter início logo no começo da gestação, e aqui vai um recadinho aos papais: “é chegada a hora de vocês mostrarem a que vieram! Seu número neste cenário é como se fosse a cena principal de um grande espetáculo. Exerçam seus papéis de pais com todo carinho, não só após o nascimento. A criança precisa da sua confiança para que a separação da mãe, no período em que estiver na Maternidade, não ocorra sob traumas. Vocês papais terão, junto com as mamães, o desafio de orientar seu filho de que seu lugar estará assegurado, mesmo que um novo bebê “invada” a rotina de vocês. Não podemos deixar de lado o fato de que vocês também estão em segundo plano (lembram quando o mais velho nasceu?!!), só que agora vocês terão um companheiro neste momento de alegrias, preocupação neo-natais, mas também de muita solidão.

Todos sabem que uma base bem construída resulta em uma obra brilhante. Por isso, tratem este momento como único. Vocês viverão uma nova etapa, mas que os dará o título eterno de “Pais de primeira viagem”. Estejam prontos não só para a chegada do mais novo, mas também para alterações comportamentais que o seu mais velho possa vir a apresentar. Vocês sabem qual a emoção de uma gravidez (boas sensações e os sentimentos de angústia que esta lhe trouxe), mas seu filho não. E a maneira que ele encontra para manifestar este novo sentimento pode vir de diversas formas: regressões, incontinência urinária, pedido pelo uso de chupetas e mamadeiras (ou sem nunca terem usado, ou após já tê-las deixado), fala infantilizada, sono agitado, “agarrar-se a um amuleto” (paninho, bichinho), vínculos com Amigos Imaginários, recusa a um alimento (antes ingerido normalmente), incorporação do caráter de um personagem de livro e/ou TV, entre outros.

Promovam – e NÃO obriguem – a participação deles nos afazeres com o irmão. Lidem com naturalidade com a questão do ciúme (tão normal, mas que se cerceada de maneira incorreta, poderá trazer comprometimentos à vida adulta – tanto ao mais velho quanto ao mais novo).

Ah! um momento a ser pensado com carinho: os primeiros meses do bebê somados à ida do mais velho para Escola. E aqui tenho N histórias para relatar, até de mães que se trocavam para ir ao trabalho só para o mais velho não ter a sensação de que a mãe o levaria e voltaria para casa para ficar só com o irmãozinho. Mais uma vez, deixe o diálogo falar mais alto, expliquem para o mais velho sob os cuidados que o menor ainda precisa. Elucidem e incentivem-no a ir à Escola para aprender e ensinar o irmão e contar aos amiguinhos e “tias” sobre o caçula.

Portanto, do momento em se sabe que está grávida até... usem, abusem e jamais esgotem o poder do diálogo. Ser Pai e Ser Mãe é ter, acima de qualquer coisa, a certeza de que ensinamentos foram passados, e para tal temos a palavra tão e tão mágica quanto “Ser Criança”, quanto “Criar Esperança”. Que com esta chegada esperanças sejam criadas, não só de um futuro melhor, mas, acima de tudo, de que nossas crianças vivam esta fase e dela se recordem mais tarde com a saborosa sensação de que: “Fui criança e devo isso a meus pais”.

Dica de Leitura: “Pais brilhantes, professores fascinantes” – Augusto Cury. Ed Sextante.

Valesca Souza

Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia

e-mail: valescasouza@gmail.com

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